Daniel Pipes comenta sobre a Suécia, imigração e muçulmanos.

03/09/2015 12:18

 

Onda Populista na Suécia

 

Segundo a última pesquisa de opinião, o partido de nome inofensivo, mas extremamente anti-establishment Democratas Suecos (Sverigedemokraterna ou SD em inglês) obteve o maior apoio dos eleitores comparado a qualquer outro partido na Suécia. Essa notícia traz, potencialmente, gigantescas implicações não apenas para a Suécia, mas também para toda a Europa.

 

Logotipo dos Democratas Suecos com o slogan "Segurança e Tradição".

 

A Suécia é um país muito especial. Um dos países mais ricos e pacíficos do mundo (a Suécia não participou de nenhum conflito armado nesses últimos dois séculos), até recentemente era uma sociedade extraordinariamente homogênea onde o socialismo, com sua concepção otimista segundo a qual todas as pessoas nascem boas e são as circunstâncias que as tornam más, funcionou bem e o governo desfrutava de grande prestígio. O orgulho sueco quanto às conquistas do país se traduz em uma superioridade ética, simbolizada pela insistente alegação do país ser uma "superpotência moral".

Entretanto essa herança também inspirou uma intolerância em relação à discórdia: "fique quieto, acompanhe o consenso, deixe os burocratas resolverem". O país ficou de tal maneira famoso pela sua sufocante e falsa unanimidade que eu até já ouvi um dinamarquês perguntar recentemente o seguinte em um fórum público: "por que a Suécia se transformou na Coréia do Norte da Escandinávia"?

Além disso, a história da Suécia criou uma mentalidade "anticrise" que milita contra aquelas respostas realistas, aprimoradas, necessárias para lidar com os atuais problemas que o país está enfrentando, principalmente aqueles relacionados à onda de imigrantes, especialmente a de muçulmanos. Conforme um interlocutor me disse em Estocolmo no início do mês, "o sucesso no passado levou ao fracasso de hoje". Por exemplo, a segurança na Suécia está bem abaixo de um país como por exemplo a Bolívia, com pouca inclinação para a tomada de providências, tornando a violência islamista praticamente inevitável.

Nessa degradação, o SD se destaca porque ele apresenta a única alternativa política. Em dezembro de 2014 veio a prova disso, quando o SD parecia dispor do voto decisivo em uma votação crucial para o orçamento, disputado pelos blocos de direita e de esquerda na legislatura unicameral do país, o Riksdag,até que todos os demais partidos se uniram formando uma grande coalizão neutralizando assim sua influência.

Essa atitude desesperada indica que os Democratas Suecos apresentam uma agenda política populista e não, como é normalmente retratado. de "extrema-direita", anátema de todos os partidos mais antigos: acima de tudo, o partido defende a assimilação dos imigrantes legais, expulsão dos ilegais e a redução da imigração de no mínimo 90%. Ele também promove uma série de medidas (que dizem respeito a crime, defesa, União Européia e Israel), longe do consenso sueco e por demais indigesto aos demais partidos.

 

Anúncio em um metrô de Estocolmo ilustra a mensagem dos Democratas Suecos.

 

O establishment tem motivos de sobra para odiar e temer o SD, ele (establishment) procura meticulosamente a menor falha, ínfima até, dentro do partido, a começar pela alegação de seu passado neo-fascista (muito embora as ligações fascistas não sejam privilégio só do SD) e cavouca à procura de pontos fracos em sua liderança.

Apoiar o SD continua sendo um tabu. Certa vez o comissário de polícia nacional tuitou sobre "vontade de vomitar" só de ver o líder do SD, é óbvio que seu staff não ousa admitir seu apoio ao partido. Contudo um policial me informou que ele estima que 50% da polícia votam para o SD.

 

O próximo chefe de polícia nacional tuitou sobre vontade de vomitar em relação ao líder dos Democratas Suecos.

 

Mesmo mal visto, o SD angaria gradualmente a simpatia dos suecos (inclusive de imigrantes), conferindo a ele consideráveis avanços eleitorais, praticamente dobrando sua votação no parlamento a cada quatro anos: de 0,4% em 1998 para 1,3% em 2002, 2,9% em 2006, 5,7% em 2010 e 12,9% em setembro de 2014. E agora, menos de um ano depois, uma pesquisa de opinião do YouGov mostra que novamente o partido quase dobrou sua votação alcançando 25,2%, assinalando que já ultrapassou a situação, os Sociais Democratas (que contam com apenas 23,4%) e o maior partido de direita (só no nome), os Moderados (com 21%).

Não menos importante, eu fiquei sabendo em Estocolmo, que o clima intelectual e político sofreu uma guinada. Jornalistas, especialistas em política e os próprios políticos, todos estão observando que as ideias que se encontravam fora da corrente predominante há apenas um ano já chamam a atenção. Por exemplo, quatro jornais de peso questionaram o consenso em favor da alta imigração. Além da multiplicação dos votos do SD, essa mudança é consequência de diversos fatores: a traumática ascensão do Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS), que modificou o debate, o descontentamento contínuo em relação ao acordo de dezembro que impediu o SD de poder gozar de sua merecida influência parlamentar e o esvanecimento na memória da violência descontrolada de Anders Behring Breivik em 2011 na Noruega.

Levando tudo isso em conta, pelo andar da carruagem, a negação e a censura poderão continuar até que o instinto de preservação entre em cena. O país ocidental mais inclinado ao suicídio nacional está provavelmente acordando da letargia. Se essa mudança pode acontecer na Suécia, a "Coréia do Norte da Escandinávia", ela pode e provavelmente irá acontecer em outras regiões da Europa.

O Sr. Pipes (DanielPipes.org@DanielPipes) é o presidente do Middle East Forum. © 2015 por Daniel Pipes. Todos os direitos reservados.