"Imigrantes Não São Criminosos"

02/09/2015 15:33

 

"Imigrantes não são criminosos!" Este foi o lema da passeata ocorrida nos Estados Unidos contra as deploráveis condições dos imigrantes e refugiados que estão passam de uma fronteira para outra em busca da sobrevivência.

O quadro atual é de extrema insegurança para quem tenta viver em outra nação e para quem os recebe. A questão é, que os imigrantes ficam em desvantagem, pois são vistos como pessoas de última categoria. Em alguns casos, a situação vexatória daqueles que fogem em busca de uma vida sólida, parece cada vez mais propensa a deflagar uma guerra. Mas afinal, o que é imigração?

            Tenho ouvido pessoas confundiram imigração com domínio de um povo em outra cultura. Isso não é verdade. Principalmente, em se tratando de muçulmanos, em que a maioria atual professa esta religião e estão deixando seus países para uma vida mais estável na Europa. Com base no conceito histórico e sociológico sobre imigração, vamos analisar dois autores que descrevem com clareza a definição de imigração. 

 

O conceito de Paul Veyne, historiador.

 

            Paul Veyne esclarece que o conceito passa por muitas variantes. Ele exemplifica através do conceito dado a cidade-campo, como esta passou por várias interpretações conforme contexto e geografia. Esta variante é expressa no texto como a armadilha da abstração.

            Explicar o conceito como definição única é perigoso. Ele transpassa a esfera temporal e recebe significados próprios ao seu contexto.

Paul Veyne atenta para a tipologia um conhecimento pontual. Mas os próprios fatos históricos se diferenciam e por isso não se pode reproduzir por espécies como são as plantas.

            A história comparada não deixa de ser história, ela compreende o conceito de forma que permita um pouco mais de definição.

            Para explicar melhor o problema na utilização do conceito em história, Paul Veyne exemplifica com a definição dada sobre guerra, que para cada situação possui suas variantes, e pode até mesmo preferir outro termo como conflito ou anarquia, pois guerra não se encaixa com o fato histórico, gerando um problema maior que é o anacronismo. O sentido pode ser válido para um período, mas não para outro.

O tema proposto para nossa pesquisa é imigração. No século XIX sua conotação se difere dos dias atuais que têm um cunho muito mais sociológico. Imigração hoje pode ser sinônimo (erroneamente assim definido) de clandestinidade e terrorismo (estes também possuem conceitos prévios). Na verdade, o conceito de imigração não mudou muito seu real significado, mas passa pelo caminho da discriminação mais acirrada nos tempos atuais, o que permite uma conceituação maior no campo da sociologia.

            Conceituar é importante e enriquece a historiografia. É mais trabalhoso, contudo permite uma pesquisa mais apurada. Para um professor de história, ele deve assumir e se posicionar como historiador, o que muitas vezes não ocorre. Ele manifesta apenas o papel de professor. Certamente permitirá um empobrecimento na sua aula e o conceito será um dos mais afetados, pois deste exige-se aprimoramento.

            O historiador não pode dirimir o valor do conceito na sua construção histórica, é preciso utilizá-lo e rebuscar com excelência sua explicação através da compreensão de todo arcabouço que o envolve.

            Finalizando com uma frase do Paul Veyne, o conceito: “... todos os seres históricos mudam num mundo que muda, e cada ser pode fazer mudar os outros e reciprocamente, pois o concreto é transformação e interação”.

 

           

Abdelmalek Sayad, sociólogo franco-argelino. Com base no seu livro: A imigração, ou os paradoxos da alteridade. São Paulo: EDUSP, 1998.

 

            Imigração: estado provisório ou permanente?

            Para o sociólogo Sayad pode-se definir a imigração que destinam por uma dupla contradição:

            “não se sabe mais se se trata de um estado mais duradouro, mas que se gosta de viver com um intenso sentimento de provisoriedade”.

            Esta análise define que muitas vezes o imigrante entra em terras estrangeiras para se obter uma vida melhor, mas acabava gerando um estado de permanência.

 

O imigrante ¦ não é um estado provisório. Ele se instala de forma cada vez mais duradoura. Cria raízes onde está.

 

O estado provisório ¦ é o estado de direito

O estado definitivo ¦ é o estado de fato

 

            Muitos imigrantes ao entrarem em outra terra pensam que por ali serão provisórios, isto se dá pelo tratamento hostil que recebem muitas vezes. O primeiro sentimento é o retorno para sua terra natal, onde ele aprendeu a língua, a cultura, onde estão aqueles que lhe são comuns.

            As categorias dos imigrantes:

 

1ª Os imigrantes se vêem como provisórios.

2ª As comunidades de origem (sociedades de emigração) consideram os imigrantes são simples ausentes. Seu abandono da terra natal é provisório.

3ª O imigrante não possui direitos como presença reconhecida e permanente.

 

            O imigrante é visto como mão de obra necessária. È o fator econômico o mais evidente par a existência a permanência (ainda que provisória) do imigrante.

O imigrante também se sente: “em todo caso nós não estamos em casa, principalmente [...], nós escolhemos, nós fizemos de tudo para não estarmos em casa, [...]... o que você diria de um estrangeiro que viesse à sua casa e se instalasse como se estivesse na casa dele..., você sempre pode mandá-lo embora!... nós não estamos no nosso país!”

            Este é um sentimento fantasmático no imigrante, que é a possibilidade da expulsão”. Esta situação de medo e que gera a certeza dela, que o imigrante passa a reivindicar seus direitos a uma existência plena.

            Na análise da ciência econômica a imigração possui custos e vantagens. Para uns custos e para outros vantagens.

 

Vantagem ¦ mão de obra imigrante na idade adulta.

Custo ¦ o país de origem arcas com a vinda e presença do imigrante

           

            Também pode-se entender que o que é custo hoje pode-se tornar vantagens amanhã. O mesmo pode-se dizer o que é vantagem hoje pode tornar-se custo amanhã.

            As relações entre os países de emigração e imigração, a situação econômica internacional e questões políticas podem ditar estas análises de custos e vantagens.

            “O imigrante não é uma pessoa que se deporta..., é um homem que vem para o nosso país com uma esperança, a de participar da vida econômica de um país que é a terra do trabalho, a terra da liberdade...” (P.Dijoud, nos Dossiers de l’écran, 14.01.1975).

            O imigrante está ligado indissociavelmente ao trabalho. Um imigrante desempregado não existe (R.Desnos).

            “um imigrante é essencialmente uma força de trabalho, e uma força de trabalho provisória, temporária, em trânsito”. (Sayad, 1998:54).

            “...mesmo se nasce para a vida (e para imigração) na imigração, mesmo se é chamado a trabalhar (como imigrante) durante toda a sua vida no país, mesmo se está destinado a morrer (na imigração), como imigrante, continua sendo um trabalhador definido e tratado como provisório, ou seja, revogável a qualquer momento.

            O trabalho para o imigrante é aquele feito para ele “mercado de trabalho para imigrantes”.

            Ser imigrante e desempregado é um paradoxo.

 

            A geografia ¦ ciência do espaço

            A demografia ¦ ciência da população

            Estão ligados no estudo da imigração

            A imigração se torna um problema social, imposto:

            Imigrantes e o emprego

            Imigrantes e o desemprego

            Imigrantes e a habitação

            Imigrantes e seus filhos na escola

            Imigrantes e o direito a voto

Imigrantes e sua integração

Imigrantes e a velhice, etc.

 

Por assim dizer o imigrante passa para discriminações que todas as segregações sofrem (colonização, escravidão, apartheid, etc).

O imigrante sai da sua cultura para imigrar em outra. Os conflitos gerados por esta nova situação atingem todo o espírito do imigrante. Mas para ele é uma provação, ainda que provisória (como muitos pensam). Por outro lado a recepção da outra nação é muitas vezes etnocêntrica.

Com o tempo o imigrante que for sociável, educável ou consertável, será melhor aceito. Mas para isso ele terá abandonado suas raízes culturais. Muitos não adotam totalmente a forma cultural do país onde estão e estabelecem suas formas culturais entre si: religião, comida típica, língua, festas, etc. é uma forma de manter viva a sua cultura.

Imigração: homens, jovens.

A presença do imigrante está intrinsecamente ligada à habitação. Deve-se então planejar uma habitação, ou de emergência ou provisória.

De forma a justificar o tipo de alojamento do imigrante, este local é pobre para uma pessoa pobre, que precisa trabalhar o máximo e gastar o mínimo. Além de se levar em conta que o imigrante geralmente vem de um país pobre, subdesenvolvido. E o imigrante ser um homem do campo, de uma sociedade tradicional, geralmente analfabeto ou de pouca instrução. Com estas características o imigrante precisa passar por uma ação “educativa”, que irá determinar a “hospedagem do imigrante”.

A ilusão do imigrante provisório, nada mais é que a perpetuação do ser imigrante. Daí os alojamentos, ou hospedarias serem pobres.

Ele sempre será imigrante por isso o alojamento é pobre.