Implantação das Mesquitas

06/06/2015 13:23

Mesquita xiita de Foz do Iguaçu. Foto de arquivo pessoal.

 

 

            Mesquita (masjid) é o local do serviço divino do islamismo, onde o povo se reúne para as orações e o estudo do Corão. Existem salas para ablução feminina e masculina. Os minaretes encontram-se contíguos à mesquita. No muro que dá para Meca há um nicho, o mihrab, que indica a direção na qual se deve rezar.

            Em 15 de julho de 1933, reuniram-se alguns muçulmanos na casa de Husni Adura para criação do Jornal Az-Zikra e definir a construção de uma mesquita.

            A pedra fundamental da mesquita foi lançada pela pequena sociedade muçulmana, em São Paulo na Av. do Estado, nº 5382, em 10 de janeiro de 1942. Os membros dessa sociedade eram pessoas leigas, mas que mantiveram suas atividades clericais.

            A primeira mesquita no Brasil foi construída em estilo árabe, reunindo características da arquitetura islâmica. Esta construção chegou ao conhecimento do rei do Egito e do príncipe herdeiro. Eles contribuíram com uma parcela alta de donativos para construção. Na tese de doutorado de Jorge Safady (1972), ele transcreveu em português a carta do Rei do Egito de 24 de agosto de 1944:

 

Ilustríssimo senhor Abul Huda Jundi, Presidente da Comissão Pró Mesquita Brasil, Rua Itobi, 56, São Paulo. Em anexo, passo  às  suas   mãos o  incluso  “bordereau”  relativo   à  remessa,  pela  Legação  do  Brasil no Cairo, a Vossa Senhoria  da importância de quinhentas libras             Egípcias (sic) doadas  por  Sua Majestade  o Rei Faruk I, para a construção da Mesquita dessa capital.

A Legação do Brasil no Cairo agradeceria a vossa senhoria dirigir-se, por  seu  intermédio,  à  sua  Excia., o senhor Ismail Teymour Pacha,  Primeiro  Camareiro  de  Sua  Majestade  o  Rei  Faruk I, acusando o recebimento daquele donativo.

Aproveito  a  oportunidade  para  renovar os  protestos  de  estima   e consideração com que me subscrevo, de vossa senhoria

(a)   José Carlos de Macedo Soares

                                                           Chefe da Divisão do Cerimonial

 

            Depois que construíram a mesquita é que receberam o cher, vindo do Egito, um pouco antes da inauguração que aconteceu em 1956.

            A Sociedade Beneficente Muçulmana de São Paulo foi a primeira entidade muçulmana constituída no país em 10 de janeiro de 1929 (mês rajab do ano 1347 h).

            Os muçulmanos de São Paulo refletiram o bastante para tomar a decisão de construir a mesquita. Ao chegar no projeto definitivo, a Sociedade Beneficente Muçulmana levou o fato ao conhecimento do Dr. Prestes Maia, prefeito de São Paulo.

            O jornal A Pátria, de São Paulo, no dia 05 de outubro de 1944 escreveu uma nota sobre a nova construção que foi transcrita na tese de doutorado de Safady (1972: 276):

 

A Mesquita Brasil, seria em estilo árabe, e reunirá todas as linhas características da arquitetura islâmica, devendo  constituir  em  São Paulo,  um vivo modelo desse gênero de edifícios históricos. Sendo o único no Novo Mundo, a Mesquita Brasil atrairá para si a atenção dos interessados pela arte árabe.

 

            Assim como as sociedades muçulmanas, o objetivo da mesquita era dar apoio aos que precisassem de assistência social. O artigo nº 4 do 1º capítulo do estatuto social, durante a fundação da Sociedade Beneficente Muçulmana em 1929, declara:

 

Construirá  conjuntamente e anexo  às obras da Mesquita a sua sede social, onde funcionarão os Departamentos de  Assistências aos sócios e de socorro aos necessitados em geral independentemente de pertencerem ou  terem pertencido ao quadro social, ou de  professarem  o mesmo credo religioso (SAFADY, J.S. 1972:160).

 

            Em 1970 foi realizado o primeiro Congresso Islâmico no Brasil e América Latina, realizado na Mesquita Brasil até então a única mesquita construída no país.

            Depois da mesquita Brasil, a segunda mesquita a ser construída foi em Londrina, Paraná, em 1975. Ela é freqüentada tanto por sunitas como shiitas, pois a comunidade muçulmana de Londrina não tem mais do que 200 famílias. Esta mesquita recebeu verbas de países muçulmanos e seu terreno foi doado pelo governo brasileiro.

            Algumas mesquitas como a de Guarulhos e Salvador, foram construídas por brasileiros convertidos ao islamismo.

            A mesquita de São Bernardo do Campo, que abriga o CDIAL (Centro de Divulgação Islâmica para América latina), fica aberta vinte e quatro horas por dia, para que o muçulmano possa orar em qualquer momento.

            A mesquita do Rio de Janeiro foi fundada em 1983. Ela está situada à Estrada de Jacarepaguá, entre os bairros da Barra da Tijuca e Rio das Pedras.  No início a tímida comunidade muçulmana freqüentava a mesquita, principalmente aos domingos. Mas por estar em local de difícil acesso, a comunidade preferiu reunir-se em um salão da Rua Gomes Freira, 176 / 2º andar, no centro da cidade. O centro do Rio permite que os muçulmanos se reunam com mais frequência, principalmente porque está localizado próximo ao SAARA, que é o mais forte centro comercial dos árabes. Atualmente a sociedade muçulmana do Rio se reúne na mais nova mesquita no bairro da Tijuca.

            O número de mesquitas sunitas hoje no Brasil são muitas. As shiitas são poucas e outras ramificações do islamismo não possuem um templo com características próprias de uma mesquita muçulmana. Eles se reúnem em salas ou até mesmo nas próprias residências separando um cômodo especial para as orações.

 

Obras Consultadas:

HAJJAR, Claude Fahad. Imigração Árabe – 100 anos de reflexão. São Paulo: Icone, 1985.

SAFADY, Jamil. Brasil-Líbano-Síria. São Paulo: Ed. Safady, 1949.

_________. O Café e O Mascate. São Paulo: Ed.Safady. [s.d.]

SAFADY, Jorge S. Imigração Árabe no Brasil (1880-1971). Tese de doutorado Apresentada ao Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências     

       Humanas da Universidade de São Paulo, 1972.

_________. O Líbano no Brasil. São Paulo: Ed. Safady, 1956.

TRUZZI, Oswaldo. De Mascates a Doutores: Sírios e Libaneses em São Paulo. São Paulo: Editora Sumaré,1996.

_______. Patrícios, Sírios e Libaneses em São Paulo. São Paulo: Ed. Hucitec, 1997.