Jihad

06/06/2015 12:49
 

A jihad é um preceito islâmico dito pelo próprio profeta Mohammed. A jihad está presente desde o início da história do islã, seja nos textos sagrados, na vida do profeta e nas condutas dos seus companheiros e sucessores. Toda vez que um muçulmano estivesse em condições de maus tratos e inferiorizados pelo regime que não fosse islâmico, o muçulmano poderia praticar a jihad, inclusive para libertar um escravo. Entre as 199 referências para jihad nos hadith (ditos do profeta), encontramos a seguinte referência: “[...] À pessoa que libertar um escravo muçulmano, Deus salvará a cada um dos seus membros do Fogo do Inferno, como compensação por cada um dos membros de escravo[...]” (NAWAWI, p. 220).

            Em árabe a palavra jihad significa luta ou esforço (tanto físico, emocional ou espiritual). Ela pode ser usada tanto para muçulmanos como para não-muçulmanos. É com frequência utilizada nos textos clássicos com o mais próximo do significado de batalha, luta. No Alcorão encontramos a referência de “esforçando-se  no caminho de Deus” (suras 9.24; 60.1, etc). No sura 4.95 faz a seguinte referência: “[...] Deus prometeu recompensa a todos que crêem, mas concede aos que lutam uma recompensa maior, distinguindo dos que permanecem casa”. Não é errado dar alusão a um significado militar para jihad (LEWIS, 2004, p. 46).

            No ocidente o termo tem o significado de "guerra santa", enfocando uma atitude militar ou terrorista. Todavia, pelo ensino corânico a ação militar é um sub grupo da jihad. O profeta Mohammed, vindo de uma das batalhas, enfatizou que eles venceram a menor jihad para conquistar a maior que é o autocontrole e aprimoramento da alma.

            Jihad no sentido original tem o objetivo de levar a causa islâmica para o mundo. Com esforço e dedicação os muçulmanos devem se empenhar pela pregação do islamismo. Quando este esforço exige conflitos, a jihad é traduzida por guerra santa. Mas ainda que seja chamado de guerra santa, o islamismo tenta transmitir a ideia de esforço religioso e não de terrorismo ou ação militar.

            A jihad também está ligada ao sentimento de liberdade da fé do muçulmano, caso seja infringida é permitido declarar uma jihad.

            Depois do Alcorão a fonte mais importante para entender jihad são os hadiths, onde existem 199 referências a respeito. O termo empregado no geral para jihad é combate. Para alguns estudiosos dos hadiths, o significado é ação armada, voltando-se mais para a designação guerra santa, porém com interpretação de lutar pela causa de Allah na defesa dos muçulmanos e não somente pela conversão dos não-muçulmanos.

            Bernard Lewis cita que existem quatro tipos de inimigos que deve se lançar a guerra: os infiéis, os apóstatas, os rebeldes e os bandidos (2004, p. 46), sendo as duas primeiras consideradas jihad.

            A jihad pode tanto ser para guerra defensiva como ofensiva. Na ofensiva, a jihad é uma obrigação dos muçulmanos. Aqueles que são mortos na jihad são chamados de mártires. A palavra mártir vem do grego martyr, que significa testemunha. Na concepção judaico-cristã, designa aquele que será testemunha da sua fé até a morte, se for preciso. Em árabe a palavra para testemunha é shahid, também traduzida como mártir, mas para quem morre na batalha e não para o que se suicida, pois é pecado mortal e de condenação eterna conforme os preceitos do Alcorão. A recompensa para o mártir durante a jihad é ter um lugar no paraíso.

            Os juristas clássicos distinguem entre a morte nas mãos do inimigo, que leva ao céu, e a morte com as próprias mãos, que leva ao inferno.

            Alguns juristas da atualidade que são fundamentalistas, não aceitam esta distinção, provocando uma sutil mudança teológica. Mas nem todos os muçulmanos concordam com estes fundamentalistas.

            Pela jurisprudência islâmica, a jihad não é uma obrigação individual e sim de toda comunidade muçulmana. Para os juristas ela se adapta a um contexto onde o mundo está dividido em regiões muçulmanas e regiões não-muçulmanas.

            O Alcorão afirma no sura 29:8: "E recomendamos aos humanos benevolência para com seus pais; porém, se te forçarem (jahadaka) a atribuir-Me o que ignoras, não lhes obedeça, porque vosso retorno será a Mim, e então, inteirar-vos-ei de quanto houverdes feito". Este verso ensina o muçulmano a se esforçar pela causa de Deus. Quando não obedecem a Sua vontade os muçulmanos podem entrar em conflitos com os infiéis.

            Ao prescrever os saques contra as tribos que não se converteram ao islã, no ano 624 d.C., Mohammed instituiu a jihad, chegando a armar um pequeno exército.

            A tradução em árabe para guerra santa é harbun muqaddasatu. Guerra em árabe é harb ou qital. No entanto, a tradução para guerra santa não foi imposta somente pelos ocidentais, mas também por alguns muçulmanos escritores e tradutores do Alcorão.

            Alguns versículos relacionados abaixo ajudam na compreensão da execução da jihad

 

1.      Reconhecer o criador e amando-o mais do que todos (sura 9:24):

“Dize-lhes: se vossos pais, vossos filhos, vossos irmãos, vossas esposas, vossa tribo, os bens que tenhais adquirido, o comércio cuja estagnação temeis e as casas nas quais residis são-vos mais queridos que  Deus e  seu  Apóstolo,  bem  como  a luta (jihadum) por Sua causa, aguardai até que Deus venha cumprir seus desígnios. Sabei que ele não ilumina os depravados”.

 

2.    Esforço para atos justos (sura 29:69):

“Por outra, quanto àqueles que diligenciam (jahadu) por Nossa causa, encaminhá-los-emos por Nossas sendas. Sabei que Deus está com os benfeitores”.

 

3.    Ter coragem e determinação de transmitir a mensagem do islã (sura 49:15):

"Somente são crentes aqueles que crêem em Deus e em seu Apóstolo e não duvidam, chegando mesmo a sacrificar (dabiha) seus bens e suas pessoas pela causa de Deus. Estes são os verazes!"

 

4.      Libertando as pessoas da tirania (sura 4:75):

                 “E o que vos impede de combater (jahadu) pela causa de Deus e dos indefesos, homens, mulheres e crianças, que dizem: ó Senhor nosso,  tira-nos  desta  cidade (Meca) cujos habitantes são opressores”.

           

OBRAS CONSULTADAS:

 

ARMSTRONG, Karen. Em Nome de Deus: o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

_________.O Islã. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

 

BRAGUE, Rémi. Quelques Difficultés pour Comprendre L’Islam. Rio de Janeiro: Educam,  2002.

 

CESARI, Jocelyne. Faut-il Avoir Peur De L’Islam? Paris: Presses de Sciences, 1997.

 

KEPEL, Gilles. Jihad – Expansion et déclin de l’islamisme. Paris: Gallimard, 2000.

 

LEWIS, Bernard. O Oriente Médio – do advento do cristianismo aos dias de hoje. Rio de Janeiro: Zahar, 1996.