O islã é ou não uma religião de paz?

06/03/2015 18:59




Diante dos acontecimentos de janeiro, com a morte dos chargistas franceses e os ataques do Estado Islâmico, o que mais se ouve é sobre o islamismo ser ou não uma religião de paz. É uma afirmação muito simplista para definirmos uma religião, seja ela qual for. Posso dizer com todas as letras que o Estado Islâmico não representa o todo da comunidade muçulmana. Pode representar alguns grupos insatisfeitos com a política internacional, mas de longe não é a maioria.

 

Desde que surgiram os grupos terroristas como Boko Haram, Al-Qaeda, Jihad Islâmica, Mujahedin, entre outros,
é perceptível que muitas facções ou ramificações muçulmanas não tenham um representante entre eles. Ainda não constatei dentre os grupos muçulmanos Druzos e sufistas, por exemplo, que façam parte de atos terroristas. Sabendo que são mais de 70 ramificações, muitos muçulmanos não aderem a prática do
extremismo. Como é um assunto extenso, vou me basear no ponto teológico que faz com que alguns muçulmanos interpretem sua fé pela espada.


O islã foi fundando em agosto do ano 610 d.C. Após a morte do seu fundador Maomé em 632, o islã
iniciou uma série de discussões através de intérpretes muçulmanos para firmar os fundamentos da fé e a crença islâmica. As facções islâmicas começaram a surgir. Em relação aos pilares, todos os muçulmanos são unânimes, mas em relação as crenças: Deus, fé, anjos, dia do juízo, ressurreição e outros, há uma considerável divergência e discussões acirradas. Um exemplo disso foi a formação de um grupo conhecido como mutazilitas. Eles surgiram por volta de 748 d.C. e se dividiram em dois grupos: de Basra e de Bagdá. Estes grupos se subdividiram mais ainda, dando origem há mais de 10 escolas diferentes. Com esta diversidade de facções
também estavam suas formas de interpretação. Com a variedade de interpretação é possível entender que no tempo presente vamos encontrar muçulmanos extremistas e outros moderados.


Os mutazilitas foram conhecidos por sua alta racionalidade de interpretar o Alcorão e usar de práticas truculentas para valer sua doutrina, muitas vezes com pena de morte para aqueles que não fossem seus partidários. Porém, sábios muçulmanos de outras escolas eram totalmente contrários aos mutazilitas afirmando que: "Os mutazilitas, em seu zelo por julgar tudo apenas pela razão, destruíram a personalidade de Deus e O reduziram a uma universalidade indefinível ou uma mera unidade abstrata". (O Islã Clássico, pag. 164).


No decorrer dos séculos o islã tem adeptos que interpretam o Alcorão por várias faces, e parece que os mutazilitas andam soltos pelo islã. Mas existem os totalmente contrários. Este é um bom princípio para percebemos as diferenças entre eles, a teologia.