Vídeo Sobre Expansão Islâmica: um outro olhar

07/03/2015 12:42




Existe um vídeo circulando na internet sobre a expansão do islamismo no mundo. Quero trazer algumas considerações sobre este vídeo, acentuando um espírito crítico para apurar os fatos e não gerar em nossos corações mais hostilidade ou qualquer preconceito contra os muçulmanos.


1.     Se uma cultura não tiver uma taxa igual ou acima de 2.11, em 25 anos ela poderá deixar de existir. Muitas culturas desapareceram por não manterem a taxa aceitável.

Isto está correto, porém, as culturas que desapareceram, algumas inclusive nas Américas, foram por questões de genocídio e/ou isolamento cultural. Vou exemplificar a questão do genocídio com o ocorrido nas Américas no início da colonização do século XVI.

A colonização por exploração, espanhola e portuguesa na América Latina dizimou mais de 40 milhões de nativos. Alguns grupos étnicos se isolaram nas matas ou montanhas onde colonizadores não os alcançaram. As tribos que não foram dizimadas, ainda podem ser encontradas neste imenso Brasil e em outros países latino-americanos.

Os povos indígenas viviam próximos ao litoral, com as perseguições muitos fugiram para as florestas, levando-os a condição de isolamento, provocando o desaparecimento de muitos, por não conseguirem subsistir ao novo contexto regado de doenças, fome e falta de adaptação às novas regiões.

O que aconteceu na região do norte da África e Península Arábica quando surgiu o islamismo no ano 622 e foi se expandindo nestas regiões onde existia uma expressiva comunidade cristã, não eliminou culturas existentes, mas o sincretismo com predominância da cultura árabe com islã, que muitas vezes são confundidas como se fossem originárias de uma só, o islã.

O problema da taxa de fertilidade na Europa é relevante, mas não estamos falando de um único país, e sim de um continente inteiro que tem uma cultura fortemente sedimentada que só poderá desaparecer se houver guerra. Quanto a isso, não devemos temer os muçulmanos, mas a própria falta de vida com Deus dos europeus.


2.      Se permanecer na taxa de fertilidade de 1.38 "em poucos anos a Europa deixará de
existir".


É uma expressão muito pessimista e generalizada "Europa deixará de existir". Só deixará de existir se houver guerra. Os europeus têm se despertado para o crescimento da natalidade. Ainda não é uma taxa de crescimento considerada ideal, no entanto, há um crescimento. Isto tem acontecido pelo caminho natural
e não o medo de uma religião que está crescendo em seu território. E o que ocorre no momento é a via contrária, a repulsa pelo islamismo e seus extremistas.


3.     O aumento de muçulmanos na Europa é causado pela imigração.

 Este é um dos assuntos mais delicados que têm crescido na pauta das discussões  políticas de partidos de extrema direita na Europa com intuito de expulsar e proibir mais entrada de estrangeiros refugiados e imigrantes. Devemos considerar que a imigração nos países europeus está sendo tratada com mais cuidado, principalmente, depois dos ataques ao World Trade Center em setembro de 2001.

 Tratando do conceito imigração, verificamos que, como tantos outros, passa por diferenciação histórica. O historiador Paul Veyne esclarece que todo o conceito histórico passa por muitas variantes.

No conceito de imigração percebemos sua mudança conforme o tempo histórico. Nos dias atuais têm um cunho muito mais sociológico. Imigração hoje pode ser sinônimo de clandestinidade e terrorismo. Jorge Safady, historiador brasileiro descendente de libaneses, dá a seguinte definição para imigração:


                                        "As imigrações são fenômenos normais na história da humanidade. O homem

                                        encontrava-se em todos os continentes na pré-história e, nos últimos dois milênios,

                                        acelerou a colonização de regiões antes inóspitas, graças aos progressos técnicos.

                                        A redescoberta das terras americanas  alargou os horizontes das migrações

                                        humanas, formando povos e estabelecendo novos Estados. É o Novo Mundo que

                                        está em evidência, atraindo a juventude das outras partes do Mundo."


Abdelmalek Sayad, sociólogo argelino que viveu na França, analisa a imigração como um estado provisório ou permanente. Para o sociólogo pode-se definir a imigração que destina por uma dupla contradição: "não se sabe mais se trata de um estado mais duradouro, mas que se gosta de viver com um intenso sentimento de provisoriedade". Esta análise define que muitas vezes o imigrante entra em terras estrangeiras para ter uma vida melhor, e acaba em estado de permanência.

O imigrante é visto como mão de obra necessária. É o fator econômico que  faz com ele se desloque de sua terra natal para outra da provisão. O imigrante se sente da seguinte forma: "em todo caso nós não estamos em casa,[...] o que você diria de um estrangeiro que viesse à sua casa e se instalasse como se estivesse na casa dele..., você sempre pode mandá-lo embora!... nós não estamos no nosso país!"

Este é um sentimento fantasmático no imigrante, que é a possibilidade da expulsão. Esta situação de medo e que gera a certeza dela, que o imigrante passa a reivindicar seus direitos a uma existência plena na pátria de refúgio.


Esta breve informação sobre imigração e como se sente o imigrante é o que acontece com a maioria dos muçulmanos que imigraram para Europa ou qualquer parte do mundo. Saíram de suas terras, pois passavam por dificuldades, das mais diversas, impedindo-os de viver dignamente em seu próprio país. O mundo ocidental é atraente, inspira sonhos de felicidade, que é a força motriz do capitalismo.

Os muçulmanos que vieram para o Brasil em número bem menor que os cristãos, vieram pelo mesmo motivo, além de outros secundários. Nenhum deles veio para o Brasil pensando em transformar este país num ambiente islâmico. Entretanto, como o número de muçulmanos hoje é mais expressivo e já se estabeleceram culturalmente, se sentem na obrigação, como estabelece a fé muçulmana, de expandir o islamismo. Este é um fator natural, pois se emigraram de suas terras como muçulmanos, querem manter sua fé e como religião missionária deve proclamar o islamismo.

Os muçulmanos que imigraram para o Brasil no século XX a partir dos anos 50, sofriam com guerras e conflitos étnicos no Oriente Médio. Em Foz do Iguaçu, a maioria muçulmana xiita do sul do Líbano, emigrou por causa da guerra civil no Líbano nos anos de 1975 à 1990. Se tal evento não acontecesse, certamente  ficariam no seu país. Percebe-se que raros são os imigrantes ou refugiados muçulmanos de países do Golfo, como Arábia Saudita, Qatar, Bahrein, Emirados Árabes, Kuwait. Você pode responder por quê? Simples, são países ricos, que não estão em guerra.


Podemos citar os angolanos que vieram para o Brasil nos anos de guerra civil na Angola. Seria melhor terem ficado por lá e serem mutilados ou mortos ou fugir para sobreviver? Mas os angolanos não nos assustam, não é verdade? Entretanto, alguns deles, muito poucos, ensinaram guerrilhas aos criminosos em favelas do Rio de Janeiro. Se a imigração for vista como uma ameaça pode se transformar em racismo, com práticas discrimina tórias das mais violentas.

A imigração deve ser vista como forma de escapar da miséria e morte. Devemos continuar a recebê-los, elaborando uma política imigratória sem discriminação. Hoje a maioria dos imigrantes na verdade são refugiados.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), começou a marcar forte presença no Brasil, principalmente com a lei da anistia em 29 de agosto de 1979. Em 1982 o ACNUR se tornou oficialmente reconhecido pelo governo de João Figueiredo. Este órgão colabora com o processo de recebimento, documentação e permanência dos refugiados. Em 1986, o ACNUR solicitou ao governo Brasileiro o acolhimento de 50 famílias iranianas. Esta contribuição conduziu ao recebimento digno de povos que estavam sob situações hostis em seus países abrindo espaço para o crescimento das relações internacionais e cumprindo com os Direitos Humanos.


4.     No ano de 2027 a França se tornará uma República Islâmica.

A França deu início à sua neocolonização no norte da África no século XVII. Não é de se admirar que tenham tantos muçulmanos e seus descendentes neste país, os principais são argelinos, marroquinos e tunisianos. Mas afirmar que haverá uma República Islâmica, é desmerecer a constituição francesa, sua política interna e sua capacidade de manter o governo sob o regime quase milenar dos povos francos, que são os grandes formadores da nacionalidade francesa. O filósofo e historiador francês Jules Michelet ao escrever sobre a Idade Média, afirmou a que foi nesta época que as nacionalidades europeias foram formadas. Sem falar da Revolução Francesa que deu ao mundo a Declaração dos Direitos do Homem, a tão sonhada Liberté, Egalité e Fraternité.

Existem grandes personalidades descendentes de argelinos, tunisianos, marroquinos, que vivem na França e não ameaçam a cultura. São diferentes destes extremistas que estão por aí explodindo bombas com o próprio corpo. Este é um outro ponto importante para ser avaliado: muçulmanos extremistas e muçulmanos comuns são grupos divergentes. Estes últimos jamais ameaçam, são homens e mulheres que deixaram seus países por encontrarem obstáculos pra o progresso ou são descendentes daqueles que viveram debaixo das mais variadas dificuldades. Eles interagem com a nova cultura e desejam viver dignamente. Alguns nomes são bem conhecidos na França: Zidane, campeão na Copa de 1998; Malek Chebel, antropólogo que estuda cultura islâmica; Souad Massi, cantora franco-argelina; Khaled, cantor argelino, e muitos outros.


5.      Igrejas que se transformam em mesquitas em toda Europa.

Esta realidade é antiga. Muitas igrejas na Europa estão se transformando em hotéis, agremiações e mesquitas. O islamismo é uma religião expressiva e populosa, e se está em um local livre para plantar seus templos, ele o faz. Este ponto pode, em muito, nos favorecer em relação aos cristãos que sofrem perseguições em países islâmicos, pois se a comunidade internacional reivindicar liberdade de expressão religiosa, os líderes muçulmanos terão que
reavaliar sua postura antidemocrática e sectarista.


6.      A Alemanha será um Estado muçulmano.

Este mesmo item segue a linha do que foi descrito acima sobre a França. Com uma ressalva, as etnias predominantes na Alemanha são turcos, curdos e africanos muçulmanos.   Os países muçulmanos são muito dependentes economicamente do mercado externo, são países, em sua maioria, subdesenvolvidos e atrasados. Seria um risco muito alto permitir que tais populações assumam governos que tem constituições democráticas. Para que haja essa tomada de poder, só através de conflitos ou abertura política.

Hitler era austríaco e conseguiu chegar ao poder e fundar o III Reich. Não sendo muçulmano cometeu as maiores atrocidades que todos nós conhecemos.

Lembrando também que o mundo hoje está interagindo muito mais e se comunicando politicamente em inúmeras reuniões internacionais. A globalização é
um caminho sem volta. Podemos contestar planos econômicos e o capitalismo, mas a comunicação entre os povos, nunca houve igual e não há como
retroceder.

Diante da hegemonia de países ricos e políticas internacionais, como estabelecer um Estado Islâmico na França e na Alemanha se estes países fazem parte do G8 e assumem posições privilegiadas na ONU? Certamente se houver um governo intolerante, eles perdem todo o referencial político. Eles mesmos sabem
disso e não vão permitir que seus governos sejam substituídos pelas constituições corânicas.


7.      Líderes muçulmanos, tanto dos Estados como de comunidades islâmicas, expressam o crescimento do islamismo sem espadas ou bombas.

O islamismo é uma religião missionária, ela mantém o foco de pregar e anunciar que a salvação está no Alcorão e no seu profeta Mohammed. Nenhuma outra religião, a não ser o cristianismo, tem tanta convicção de seu zelo missionário.

Quando este vídeo passou a ser postado pela internet, não previu a tal Primavera Árabe. Ninguém imaginou que veríamos um efeito dominó político de
insatisfações com os governos internos dos países muçulmanos. Neste vídeo tem uma frase do Muamar Khadafi, e quem diria, dois anos depois estaria morto ao lado do seu filho e mais um outro muçulmano num chão qualquer na Líbia exposto para os líbios verem no que restou do líder que governou por mais de 40 anos seu país.

O narrador do vídeo fala que os líderes muçulmanos na América fizeram uma reunião para verificar como "evangelizar" a América do Norte. Incorretamente a palavra evangelizar é utilizada para expansão do islamismo, o correto é islamizar. Quem evangeliza utiliza os Evangelhos e anuncia a salvação em Jesus Cristo.

Os muçulmanos têm muitos filhos, isto é fato, um dos grandes motivos do islamismo ser uma das maiores religiões no mundo. Não é só por conversões que o islamismo cresce, e sim por natalidade.

Outro fator relevante, é um grande número de muçulmanos que vivem na pobreza e no modelo cultural bem distante do moderno. São etnias que se
mantém atuantes culturalmente sem causar qualquer ameaça as demais culturas e causarem qualquer anseio por parte dos outros de almejarem viver a sua.

A grande preocupação mesmo é com os terroristas espalhados pelo mundo afora. Mas um detalhe bem intrigante, é que os homens-bomba matam mais
muçulmanos do que não muçulmanos.  Existem muitos conflitos entre ramificações islâmicas dentro de um mesmo país, como no Iraque, em que sunitas perseguem xiitas e no Paquistão, em que os ahmadyias não possuem liberdade de culto, mesmo sendo muçulmanos são proibidos de irem à Meca.

Uma última questão é sobre o islã tomar o mundo. No vídeo percebemos que o mundo está reduzido em Estados Unidos e Europa, um pouco Canadá e Austrália. Excluíram o restante da América, do Japão, da China, Rússia. Será que o Japão vai se transformar em país islâmico? É no mínimo desconhecimento dizer que se a Europa e Estados Unidos forem islamizados, o resto do mundo também será.


Precisamos saber dialogar com o povo muçulmano, fazer separação entre as mais variadas comunidades muçulmanas e suas ramificações que são mais de 70. Saber conceituar terrorismo, cultura islâmica e cultura árabe.